A palavra luto me lembra a palavra luta e por muito tempo não gostei disso por associar a luta perdida. Pensando bem, faz todo sentido, o luto vem depois de uma luta perdida mesmo.
A perda de uma pessoa querida dói porque mostra toda nossa impotência diante da morte. Não há forte que não sucumba a esse destino. A morte é ditadora, porém igualitária, vem para todos indistintamente.
Nessa luta seguimos quase um ritual que acontece em cinco etapas. Primeiro não aceitamos a dura realidade que a ausência traz. Evitamos nos desfazer dos pertences e falar da pessoa no passado é muito difícil.
A raiva pode chegar em seguida à negação, mas muitas vezes junto também. Raiva da própria impotência frente ao destino que projetamos em quem se foi. Devia ter se cuidado mais; não se preocupou com quem ficou; depois de todo trabalho; foi muito de repente.
Podemos nos alimentar da raiva por muito tempo…
E como a dor da ausência é grande, partimos para a negociação com Deus. Barganhamos com o divino qualquer coisa para que nos livre do pesar. E a dor leva ao sofrimento que nos faz arrastar correntes. É a depressão, o estado de falta de ânimo, de entusiasmo pela vida, uma aflição constante, a ansiedade que chega a qualquer hora, insônia.
Impressionante é que a luta termina quando nos rendemos. Deixamos de brigar contra o que aconteceu e aceitamos o destino.
Toda essa luta é banhada por lágrimas. É preciso deixar umedecer para que a dor possa ser moldada e transformada.
A transformação acontece quando nos damos conta de que a vida permanece para os que ficaram e dar continuidade a ela, da melhor maneira possível, é também uma forma de manter vivos aqueles que amamos, a cada batida dos nossos corações.
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